Numa pesquisa realizada em 2013 com o intuito de perceber a opinião da população referente a primeira infância, mais precisamente das crianças de 0 a 3 anos, foram pesquisados quais itens eram considerados importantes para o desenvolvimento dessa população.
Alguns resultados foram: 19% da população entrevistada considera que seja importante a criança brincar ou passear e apenas 8% entende que socializar com outras crianças seja importante para o seu desenvolvimento.
A brincadeira é a forma de comunicação das crianças. É como elas aprendem e interagem com o outro. É como elas vão criando e testando hipóteses, é como vão analisando, descobrindo e entendendo o mundo a sua volta.
Bebês e crianças são mini cientistas e sua forma de experiência é pela brincadeira. Nosso cérebro foi criado para aprender desse jeito. Um cérebro em desenvolvimento é curioso por natureza e atento ao diferente, ao inusitado.
Quanto mais divertido e prazeroso o momento do brincar, mais aprendizado a criança terá, pois o cérebro entenderá como uma informação importante já que a diversão está intimamente ligada a uma memória mais eficiente.
Certamente os pais já vivenciaram alguma situação desafiadora com seus filhos e levar a situação para o lúdico, para a brincadeira, facilitou o processo ou o aprendizado!
Durante a primeira infância, qualquer convite à brincadeira ganhará "de lavada" a qualquer estimulo eletrônico. Repito: o cérebro da criança foi desenhado para interagir e brincar.
A brincadeira nos primeiros dois anos de vida
Temos uma imagem distorcida do que é e de quando a criança começa a brincar, mas desde recém nascidos, o bebê já brinca! Aos dois meses, quando é comum o bebê sorrir com mais intenção, além de ser uma forma bastante rudimentar de comunicação, é uma forma de brincar por que nosso cérebro, como dito, foi feito para aprender interagindo e brincando.
Por volta dos 3 e 4 meses o bebê pode segurar e balançar um objeto, isso é brincar. Para o pequeno cientista esse ato de chacoalhar é teste para as hipóteses criadas no cérebro curioso: "que peso isso tem?"; "Parece mais fácil de segurar que o outro objeto!"; "Quando faço esse movimento faz tal barulho."; "Esse barulho é diferente do outro que eu ouvi". E assim, criamos e testamos as hipóteses a fim de aprender, desde muito pequenos, os conceitos a nossa volta.
As brincadeiras que fazem sucesso com as crianças nos dois primeiros anos são as que tem a ver com o corpo, imitação e estímulos sensoriais diversos (músicas, texturas, estímulos visuais).
Se pensarmos nas questões de linguagem e fala, podemos inferir que seu aprendizado pode ser dado através da brincadeira. No início do balbucio, o bebê produz diversos sons e graças à sua audição, essa brincadeira se torna muito prazerosa e assim ele vai criando diversas hipóteses quanto àquelas produções. Portanto é no brincar que ele vai compreendendo como esses sons são realizados.
Quando existe um parceiro de brincadeira (interlocutor) respondendo de forma positiva à sua intenção (por exemplo, quando o adulto sorri ou repete o som realizado pelo bebê), as informações aprendidas são guardadas de forma especial no cérebro tornando-as numa memória importante.
Assim, a repetição dessa "simples" brincadeira, junto com os desenvolvimentos muscular e neurológico, fazem com que a criança se especialize até que comece a fazer os sons dos fonemas, sílabas, depois das palavras e assim por diante.
A brincadeira após os dois anos de vida
Por volta dos 2 anos as crianças começam a brincar de um jeito e com função diferente iniciando vagarosamente pelo mundo do faz de conta utilizando o jogo simbólico. É impossível falar da importância do brincar sem falar do jogo simbólico. Mas afinal o que é isso?
Segundo Piaget, a função simbólica está na capacidade que a criança tem de diferenciar significantes e significados e quando o jogo simbólico está finalmente construído, a criança torna-se capaz de representar um significado (objeto, acontecimento) através de um significante diferenciado e apropriado para essa representação. Segundo o mesmo autor ela é importante para o desenvolvimento cognitivo e afetivo.
A construção da brincadeira simbólica, que começa por volta dos 2 anos, ocorre dentro de uma hierarquia, separados em condutas pré-simbólicas e condutas simbólicas, tais como:
- Uso convencional dos objetos (dar função que é atribuída pelo adulto a tal objeto. Nessa fase é evidente a importância da imitação permitindo que ela possa aprender e reproduzir determinada ação).
- Esquemas simbólicos (reproduzir ações que fazem parte do seu dia a dia. Miniaturas de objetos podem facilitar essa brincadeira - fazer de conta que está comendo, dormindo ou tomando banho - tudo centrado no próprio corpo do bebê).
- Ações do dia a dia no outro (nessa fase o bebê reproduz ações, que até então eram só realizadas no seu corpo, em bonecos ou pessoas - dar comida à boneca ou ao parceiro de brincadeira).- Aplicação de ações em outros (evolução da brincadeira do item anterior, agora a criança entende que o boneco é um personagem ou parceiro de brincadeira).
- Sequencialização de ações simbólicas (quando a criança sequencializa ações numa mesma brincadeira, que até então eram feitas separadas. Agora a ação acontece de forma sequencial como: fazer a comida, servir e depois oferecer ao boneco).
- Uso de símbolos (auge do jogo simbólico onde um objeto pode de fato representar ou substituir o outro, como exemplo a vassoura que pode virar microfone ou uma guitarra numa banda imaginária de rock. Outro exemplo mais elaborado é quando ao dar banho nos bonecos, a criança liga o registro fictício e simula o barulho da água caindo do chuveiro - shhhhhh).
É importante deixar claro que é pela brincadeira que a criança vai "treinando" até que tenha condição de reproduzir o aprendizado na sua "vida real". Com o jogo simbólico portanto, a criança é capaz de recriar a realidade usando sistemas simbólicos, estimulando a imaginação e a fantasia, favorecendo a interpretação e ressignificação do mundo real.
Após todas essas informações fica fácil de entender o porquê a terapia fonoaudiológica infantil é baseada na brincadeira, o porquê a terapeuta não só brinca com a criança e sim, que toda brincadeira tem um objetivo maior no aprimoramento do desenvolvimento infantil, mais especificamente no desenvolvimento do seu filho.
No contexto escolar, também fica fácil observar que a escola na educação infantil deve estar preocupada em propiciar um espaço seguro para que as brincadeiras ocorram.
Em nenhum momento no texto colocamos o adulto como detentor de conhecimento ou mediador da brincadeira, mas sim como parceiro, alguém em posição de igualdade e não superior à criança em desenvolvimento.
Como ser parceiro e estimular a brincadeira em casa?
Não precisa muito, na verdade. O lúdico e o jogo simbólico são os grandes responsáveis por transformar um simples objeto no que a criança imaginar.
O mais importante, para ser um parceiro ideal, é a conexão que se tem no momento da brincadeira. Esqueça celular, trabalho ou os afazeres domésticos, bastam poucos minutos de real conexão por dia.
Enquanto pais precisamos estar presentes, conectados e oferecer espaço e objetos seguros para exploração e SE DIVERTIR com os pequenos!
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